Desde que me lembro de ser gente que há uma série de tradições que gosto de cumprir a preceito. Sem seguir cronologia a rigor e sem me alongar em listas, lembro o dia de Reis em que é obrigatório comer uma romã da qual se guardam 12 sementes na carteira, uma por cada mês, em símbolo de prosperidade e abundância.
Lá para meio do ano, a Espiga, o precioso ramo colhido que é pendurado atrás da porta até ao ano seguinte e que garante que não nos faltará o essencial.
E claro, as velas aos santos que admiro nos seus dias específicos.
Hoje é o dia de São Lourenço. Já preparei a vela.
A minha admiração requer pesquisa.
É preciso conhecer a grandiosidade que faz merecer o meu ritual. Não sou de me dedidicar só porque sim. Não tenho nenhuma veneração especial por Fátima e até cresci lá perto. A minha Senhora é a da Conceição, padroeira de Portugal. Tenho simpatia por Santa Rita de Cassia das causas impossíveis, Santiago do caminho das Estrelas e Santo Expedito das soluções urgentes.
Com Lourenço de Huesca, o Santo que me deu apelido, foi diferente. Não fui eu que o escolhi, foi ele que me escolheu a mim.
Desde adolescente que sonhava um dia morar nas Azenhas do Mar. Morei.
E mesmo hoje há parte de mim que ainda mora. São Lourenço é o padroeiro da vila. Sem querer, soube há dias que é também o santo dos cozinheiros, no mesmo dia em que descobri que algumas tradições populares da Europa meridional chamam à chuva de meteoros das Perseidas, que ocorre com maior intensidade a meados de Agosto, “Lágrimas de são Lourenço”. Por lembrarem as chamas associadas ao seu martírio.
São Lourenço passou a fazer parte das minhas devoções e hoje vou acender-lhe uma vela enquanto preparo a cacerola de grão para servir com massa ao almoço e lhe peço para olhar por mim todos os dias do meu trabalho.
Que assim seja.
segunda-feira, 10 de agosto de 2020
segunda-feira, 3 de agosto de 2020
Fisica ou Química
Algumas pessoas não gostam nada de mudanças. Eu, se me fosse tão fácil transformar por dentro como é à minha volta, já teria certamente transmutado o meu mau feitio em doçuras de sorrisos constantes e pulmões cheios de capacidade de respirar fundo e fresco quando a temperatura emocional me aquece demais.
Adoro alterar cenários e trocar coisas de lugar, pintar, fazer bricolage, tornar bonito o que é aparentemente desprovido de graça, reciclar objectos antigos, dar vida e brilho ao que já estava triste e sem uso, encostado a um canto. É facil comparar este gosto por promover mudanças com a cozinha que faço todos os dias. Não há muita diferença em pegar nos alimentos e transformá-los em pratos que se tentam não repetir ao detalhe.
Há sempre qualquer coisa que se pode acrescentar ou tirar. Tudo o que fazemos pode sempre ser melhorado. Sei que há pessoas que não gostam nada disto. Precisam daquela necessidade de ter sempre tudo no mesmo sítio para sentirem segurança e se provam determinado prato e gostarem assim, vão querer repeti-lo exactamente com os sabores que os deliciaram inicialmente.
Não é que eu tenha dificuldade em criar raízes e em repetições. Há coisas que faço sempre da mesma maneira há anos e sou muito feliz assim. Há rotinas que me agradam em situações, pessoas e também em locais. Gosto de rituais. Mas nisto da cozinha e das mudanças em geral é a criatividade que traz um frenesim à flor da pele e aí não podem existir regras nem limitações.
A primeira vez que tentei fazer uma Batatinha à Alentejana que ficou a marinar de véspera em vinha d'alhos com os cubos de tofu, temperei com louro e tomilho fresco, deve ter sido para ir buscar a coragem de principiante. O tomilho é a erva da coragem e o louro é consagrado às vitórias, só podia correr bem! Mas hoje, depois de um fim de semana de obras e mudança de decor, feliz com o resultado mas de corpo cansado e denso da falta de praia, sem vaso de tomilho por perto, vou usar alecrim. Sei logo ao abrir o forno que esta mudança vai fazer com que estas batatinhas gulosas fiquem a ganhar.
Ora, esta alteração pode enervar quem já conhece este prato e adora tomilho, mas também já mudei em relação às reacções das pessoas, quando me sinto convicta do que faço. É o meu jeito. Todas as cores são bonitas e tudo tem direito ao seu momento de glória. Todos os sabores fazem falta. E no fim, são as experiências o que levamos connosco. Na barriga e no coração.
Adoro alterar cenários e trocar coisas de lugar, pintar, fazer bricolage, tornar bonito o que é aparentemente desprovido de graça, reciclar objectos antigos, dar vida e brilho ao que já estava triste e sem uso, encostado a um canto. É facil comparar este gosto por promover mudanças com a cozinha que faço todos os dias. Não há muita diferença em pegar nos alimentos e transformá-los em pratos que se tentam não repetir ao detalhe.
Há sempre qualquer coisa que se pode acrescentar ou tirar. Tudo o que fazemos pode sempre ser melhorado. Sei que há pessoas que não gostam nada disto. Precisam daquela necessidade de ter sempre tudo no mesmo sítio para sentirem segurança e se provam determinado prato e gostarem assim, vão querer repeti-lo exactamente com os sabores que os deliciaram inicialmente.
Não é que eu tenha dificuldade em criar raízes e em repetições. Há coisas que faço sempre da mesma maneira há anos e sou muito feliz assim. Há rotinas que me agradam em situações, pessoas e também em locais. Gosto de rituais. Mas nisto da cozinha e das mudanças em geral é a criatividade que traz um frenesim à flor da pele e aí não podem existir regras nem limitações.
A primeira vez que tentei fazer uma Batatinha à Alentejana que ficou a marinar de véspera em vinha d'alhos com os cubos de tofu, temperei com louro e tomilho fresco, deve ter sido para ir buscar a coragem de principiante. O tomilho é a erva da coragem e o louro é consagrado às vitórias, só podia correr bem! Mas hoje, depois de um fim de semana de obras e mudança de decor, feliz com o resultado mas de corpo cansado e denso da falta de praia, sem vaso de tomilho por perto, vou usar alecrim. Sei logo ao abrir o forno que esta mudança vai fazer com que estas batatinhas gulosas fiquem a ganhar.
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