Não sei se deva sentir-me mal por apreciar as ruas vazias e o silêncio do ar. Há dias em que tenho um cansaço tão grande dos ruídos constantes que só me apetecia ter um comando de pausa de som no mundo e ouvir apenas os pássaros, o mar e a minha voz interior.
- Que faço hoje para o almoço? - pergunto eu a essa voz que me ignora ou que responde tão baixinho que quase nem ouço.
Abro o frigorífico em busca de respostas mais eficientes. Tomámos o pequeno almoço tarde, nem há grande fome. Talvez faça apenas uma sanduíche. - Que achas, voz interior?
Tenho uma memória muito vaga, de em pequenina, ouvir uma conversa da minha mãe já não sei com quem, em que ela dizia - "Dou-te um conselho..." .
Lembro-me de achar que estes conselhos eram um presente, uma coisa preciosa qualquer, afinal a minha mãe dava-os às pessoas.
E o que vem das mães deve ser precioso e único. Entretanto crescemos assim, a escutar preciosos conselhos que nos vão sendo aparentemente úteis nas encruzilhadas da vida mas algures vamos deixando de conseguir ouvir o nosso próprio som. É normal ter dúvidas e pedir aconselhamento, não nego isso, mas as nossas decisões do que nos serve ou não, devem ser sempre com base no nosso próprio som, pelo menos quando já somos crescidos e já vivemos umas décadas de encruzilhadas e dúvidas e conselhos de mães e companhias.
Demorou-me algum tempo a perceber que há uma diferença no que tomo como realmente meu e o que herdei desses aconselhamentos por esse mundo fora.
Uns dizem -" A mudança faz parte da vida." E outros acham que -"As pessoas nunca mudam".
Ou ainda -"Deves ponderar sempre os prós e os contras." Mas há quem pense que - "O importante é ouvir o coração".
E também dizem que -"A vida são as nossas escolhas". Mas há quem acredite que -"O nosso destino está traçado no matter what".
E a minha favorita -"Rir é o melhor remédio". Mas a minha mãe também diz -"Não se brinca com coisas sérias".
Shhhhiuu! Pausa nos ruídos exteriores que impedem de conseguir ouvir afinal que som é só nosso!
Confesso, estou tentar implementar rotinas saudáveis e higiénicas de auscultação de sons interiores que não sejam a barriga a dar horas.
Tenho aquela necessidade de pequeno almoço, almoço e jantar, com uns lanchezinhos pelo meio e umas ceias a terminar e esqueço ou desvalorizo, as refeições da alma que me devolvem a capacidade de ouvir esse silêncio íntimo, único e tão esclarecedor.
É o que faz ter sempre o foco no alimentar e cuidar os outros, enquanto ignoro a minha fome de nutrição da que não me engorda o corpo e me enriquece a alma.
Este tempo de pausa veio aconselhar-me a corrigir isso. As rotinas de refeições para a alma, devem ser intercaladas com as do corpo. Se consigo escrever receitas, também consigo rescrever-me, certamente.
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