quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Vi(r)agem

Praia ao lado da praça a três minutos de caminhada a partir de casa, é benção.
Chegar à praça, em pleno mês de janeiro - um janeiro com peso de fim de ano - e encontrar favas, com cheiro a mar, é benção a triplicar. 
Há muitos anos atrás, o Sérgio recomendou-me um livro de um autor que aprendi a gostar muito, Malcolm Gladwell, que entre outros livros incríveis tem um que se chama -The tipping point- ou ponto de viragem. O autor explica como uma ideia, mensagem, comportamento e afins -do nada - podem provocar uma imensa mudança no todo. 
O resumo do livro termina com uma frase que só por si tem um efeito altamente catalisador, do meu modesto ponto de vista -" uma pessoa imaginativa que coloque a alavanca no sítio certo pode mudar o mundo". 
Volto à praça e ao meu momento de viragem. Vivemos dias em que sentimos essa necessidade de mudança no mundo. Eu, como nasci com esta enorme predisposição para vencer desafios, decidi mudar-me a mim também. Pode ser o sentido de responsabilidade de fazer a minha quota parte. Mas mudar custa, por dentro e por fora. E durante o tempo de transformação deste ciclo, há inevitavelmente dores metamórficas. 
Fazem parte. Também há bençãos e são elas que no meu caso trazem os pontos de viragem. 
Estou eu em enorme esforço, ainda cheia de dores físicas de carregar caixas e arrumar tralhas e com as lamentações habituais, que não está sol e tenho saudades dos abraços e que "isto" nunca mais passa, e nesta ladainha crescente, a minha consciência e se calhar a minha barriga que pede maçãs - as maçãs alegram-me sempre o espírito e reconfortam-me - obrigaram-me a despachar o Calimero em mim, tomar duche e fazer uma caminhada até à praça. 
O caminho é curto, mas sei que ainda não ia a meio, já ia a arranjar desculpas que devia ter trazido o carro para não vir carregada com o raio das maçãs. 
O cheiro do mar entra-me pelas narinas e o sussurro consciente volta - andar faz bem e é bom para o ambiente. 
Encho o peito de ar e esqueço as dores nos músculos, apesar da minha mente insistir no foco de velha do restelo até chegar às portas da praça. Construir um pensamento saudável é mais trabalhoso do que parece, isso sim, uma verdadeira mudança que nem precisa de caixas nem transportadoras. 
Nisto, tenho o meu ponto de viragem do dia em que a benção cresce e ilumina todos os cantos críticos da minha mente insuportavelmente chata - Há favas, em janeiro, na praça ao lado da praia. 

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