terça-feira, 21 de janeiro de 2020

A Vida Nova

Podia contar uma história enfeitada, cheia de inspirações, ou então, a versão ponderada e reponderada que chega à melhor conclusão e avança, mas não tenho nem uma nem outra.
Na minha historia eu tinha um copo que estava mesmo cheio para a sua capacidade cubica e um dia percebi que precisava ou de arranjar um copo maior ou libertar algum conteúdo.
Nisto, veio uma fase de Bichos- o Nero, não o que deitou fogo a Roma, se bem que era uma boa analogia, mas este era só um cão de Miguel Torga.
Este cão, especificamente, leva-me às lágrimas, tão compulsivas, que um dia, quando voltávamos de viagem, queria entreter os miúdos e partilhar a historia que tanto me tinha comovido em catraia, mas desato numa choraminguice e funguice tal, que me largo a rir ao ver que não consigo ler a soluçar , e ninguém percebe se eu acho muita piada ou se estou um estado de lamechice profunda.
Estava. E ainda hoje se leio o Nero, choro. Mais vale aceitar isto como uma condição e pronto. Também choro com as filarmónicas e já nem me preocupa compreender porquê.
Aqui, é a historia no geral, o tudo ter um fim, o Nero que todos temos em nós, tão bem retratado na escrita perfeita de Torga...
E o gato, o Mago. Este acaba conformado, coitado, mas ambos transmitem a noção de que nada seria igual dali em diante.
“Mago respirou fundo. Abriu o nariz e encheu o peito de ar ou de luar, não podia saber ao certo, porque a noite era uma mistura de brisa e claridade. Mas fosse de frescura ou de luz, a onda que bebera dum trago, de tal modo o inundou, que em todo o corpo lhe ocorreu logo um frémito de vida nova”.
Esta frase que trago do conto desde miúda que se encaixa que nem noz em figo na minha história - “… frémito de vida nova”.
Quando percebi do copo e do conteúdo e da capacidade e as limitações, tive um destes frémitos à Mago que fez com que não precisasse de uma historia enfeitada, só de uma vida nova.

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