domingo, 14 de junho de 2020

Com tradições


Hoje é dia de almoço de familia. Tem que parar tudo que é preciso ter tempo para o que importa. Vamos a Alcobaça ao meu irmão Paulo. Tive a sorte de crescer no meio de uma familia grande e bem estruturada, da qual ainda sinto que colho valores que os meus pais nos semearam. O meu avô Gregorio celebraria hoje 114 primaveras se fosse vivo. A minha Mónica também faz anos. E Pessoa também.
É definitivamente dia de festa!
Eu que me aborreço facilmente com rotinas, recordo com uma imensa doçura pequenos detalhes que me tornaram mais rica, se bem que os anos setenta até tiveram outros detalhes nada poéticos e ligeiramente traumatizantes como o deprimente quadro do menino da lágrima de Bragolin, indispensável em qualquer decor a preceito à época, as bocas de sino, as patilhas enormes do meu pai ou os colarinhos gigantes das camisas.
Já no panorama musical quase todas as boas bandas desta década ainda existem. E na verdade os anos oitenta não foram muito melhores na questão das vestimentas nem da música, mas o que lá vai, lá vai.
Coisas boas que ficam, é o mote.
Os rituais familiares. Praça ao sábado de manhã. Que gozo! Dentro do edifício e à volta. Havia de tudo e toda a gente se conhecia. Por cima ficavam os produtores de legumes e frutas e a padaria - ai o pão da minha amiga Susana!!! Aprendeu a arte com a mãe Elisa - que era quem vendia na praça durante a minha meninice - ainda hoje me faz água na boca só de me lembrar...caseiro, super crocante, robusto e com cheiro a conforto.
Em baixo, o peixe e tudo para agricultura e criação de animais e as plantas e flores. À volta, a minha zona favorita na altura, os brinquedos e as roupas.
Aos domingos iamos à missa. Havia uma secção própria nos roupeiros só para a missa. E também tive uns sapatos de verniz pretos, pois claro - às tantas é por isso que adoro andar descalça. Domingo era dia de aperaltar. Interminável a duração da palestra, bocejava eu, enquanto sonhava com os colares de pinhões e com os tremoços da banca da dona Maria mesmo à saída da igreja. A seguir, almoçar fora. Tradicional português, claro. Todo um mundo diferente na altura.
Hoje quem vai cozinhar é o meu irmão e tenho a certeza que vai sair uma refeição digna de banquete do forno de lenha que ele construiu. O meu irmão é um artista, sorri a nossa mãe, orgulhosa. As outras duas dizem com algum ciúme saudável que eu e ele somos os dotados. Ele em quase tudo e eu na cozinha. Palavra de manas do meio, também muito prendadas, enquanto debicam talos de aipo e cenouras em hummus de curcuma. 

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