terça-feira, 16 de junho de 2020

Sina


Dia de folga e de passear com as crias antes que cheguem à idade que preferem outras companhias. Bem, na verdade já chegaram, mas ainda temos momentos muito únicos e personalizados que valem ouro e valerão memórias ainda mais preciosas um dia. Passeámos pela baixa Lisboeta. E como verdadeiras crias que conhecem os hábitos intrínsecos da progenitora lembraram ao passarmos na igreja de São Domingos - "Mãe, nem acredito, estás a passar em frente a uma igreja e não entras! "
Eu explico. Não é uma questão de religião nem tampouco de fé que não tem paredes para mim. Pode ser do ritual, daqueles que gosto mesmo de cumprir, mas começou com uma razão e essa razão há-de ter um nome, mas eu não sei qual é. É um género de fórmula que existe dentro das igrejas que me encanta - a relação ou proporção equilibrada entre iluminação-cheiro-temperatura.
Não sei explicar melhor, mas este factor arrasta-me magneticamente para o interior e faz-me sentir rendida, cheia de gratidão e serenidade. Por norma, acendo uma vela e faço um pedido ou um agradecimento à Luz da chama divina que também faz parte de nós. Esta fé muito própria e isenta de dogmas, dá-me estrutura, fortalece-me e inspira-me. Vou contando que ali em baixo na rua do Ouro era a loja do meu tio avô Manel pequeno e que a minha avó Maria do Rosário tinha trabalhado lá antes do meu avô a levar para o Alentejo, coitada. E eu até adoro o Alentejo. Sonho um dia ter um monte com um alpendre virado a oeste para ver o por de sol com cheiro de maresia e luz dourada, no meio de plantações e de charcos com rãs e melros, claro. Melros, sempre! Sinfonias perfeitas a sul. Mas o caminho agora é outro, ainda.
Seguimos para o supermercado chinês. Não se passa pela baixa sem dar um salto ao Martim Moniz. Pelo caminho ainda espreitamos a melhor livraria Lisboeta onde teria ficado o resto do dia se os miúdos não me empurrassem para fora.
A Sá da Costa é um mundo. Um dos meus mundos favoritos.
Tanta pressa para sair e eu ainda nem tinha chegado à secção de culinária...
Já bate a fome e prometi que fazia almoço. É sabido que na condição de mãe cozinheira compulsiva não há dias de folga de saciar filhos. E apesar de tudo é um enorme privilégio alimentar as minhas barrigas favoritas em todo o universo. Comprámos leite de côco, cajus, paus de canela - cinnamomum verum - com um sabor mesmo à séria e mais intenso que a comum, a cinnamomum cassia, também trouxemos curcuma, sabonetes de sândalo e Fortune Cookies. "It is up to you to create your own adventures" diz o meu. 



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