terça-feira, 30 de junho de 2020

Intervalo

Valha-nos a Sta padroeira dos optimistas que para onde quer que me vire só ouço lamúrias! Ando na praça de phones nos ouvidos. A música protege-me do que prefiro não ouvir. Agora que até sinto que estou num momento intervalo, deixem-me usufruir da minha bolha, que logo volto!
O momento intervalo é uma daquelas fases em que sentimos harmonia em nós mesmo que à volta a coisa possa estar em desassossego. É assim uma espécie de bem estar sereno em que parece que tudo está no sítio que deve estar e tem sabor a intervalo do grande Cosmos. Ou fizemos alguma coisa para merecer ou o Cosmos está distraído com outra coisa qualquer. Seja como for, há que deixar a bênção fluir e agradecer.
A abundância da fruta local deixa-me feliz! São bancas cheias de alperces, pêssegos, abrunhos, cerejas e morangos. E melões brancos e verdes, meloas e melancias. As pêras da terra também já estão boas para colher e foi a isso que vim. Pêra rocha com alperces, soa-me a combinação perfeita para o que preciso.
Esta fartura de cores e cheiros, a riqueza que a natureza nos oferece é quase o que basta para me encher de gratidão e começar o dia a sorrir. Ter trabalho e pessoas para alimentar também. E saúde e coragem, fundamentais, claro! E abraços de quem amamos. E um pouco de sol e mar e já temos quase tudo!
É dia de experiências novas e vou pegar nas pêras e alperces e fazer uma baklava. Há qualquer coisa na comida étnica que me encanta. Não que a nossa gastronomia não dê pano para mangas ou nozes para nougat mas parece sempre que as especiarias e ervas do oriente me dão uma sensação de conforto, tipo regresso a casa. Um dia tive uma cartomante que me disse que numa outra vida fui da India e ainda noutra da Grécia. É um facto que adoro comida indiana e mitologia grega!
E pelos vistos fartei-me de andar por outros mundos a reunir uma carrada de delícias na alma para as transportar agora para a cozinha e lhes dar vida do meu jeito. As pêras já cozem com os alperces em lume brando com cardamomo, pau de canela, cravinho e flor de anís. Vão apurando devagarinho e libertando sabores e sucos até ficarem em geleia para humedecerem as folhas de massa filo que já estão polvilhadas de pistacios torrados e picados. Ai se as palavras tivessem cheiro! 

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