segunda-feira, 6 de julho de 2020

A Viagem

Cada vez que dou por mim estendida na toalha, de pés na areia, cheiro e som de mar e o sol a brilhar, sinto que sou uma verdadeira privilegiada! A temperatura amena e a praia quase vazia. Ainda passei uns minutos a fazer uma das minhas coisas favoritas - procurar conchas bonitas e seixos peculiares.
Já tenho uma colecção tão grande de pedras que um dia construo uma casa, penso eu com o exagero típico que me caracteriza. Esta mania de coleccionar calhaus e afins de certeza que vem da minha irmã Margarida que julgo que ainda hoje tem um belo espólio de fósseis e pedras bonitas. Encontrei uma linda junto ao mar no Baleal, castanha com três riscas douradas que parecem pintadas com régua de tão perfeitas e simétricas que são. Que tesouro!!
Hoje mereço usufruir! Passei a manhã a tentar cozinhar o perfeito byriani de legumes, e juro, juro mesmo, que se não ficou perfeito, esteve quase lá perto. E eu nem tenho grande jeito para arroz. E sim, já experimentei todas as fórmulas e já aceitei a condição. Além disso, prefiro usar o integral e esse raramente me falha.
As especiarias rebetam de vida no azeite quente e na cebola alourada. Cheira a cravinho, cominhos, curcuma, canela e coentros, os cinco 'c' dos sabores essenciais na cozinha indiana. Ou na que eu tento cozinhar, pelo menos. E falta o cardamomo, que me vai dar um suave tom alimonado.
Um dia hei de voltar a morar junto ao mar, divago eu no meio dos aromas das especiarias que me transportam numa viagem cheia de cor. Cada vez dou mais valor aos prazeres simples. Podem tirar-me da praia, mas não tiram a praia de mim.
Não compreendo bem, nesta minha mente optimista e com predisposição automática para ver o melhor das situações, como é que há pessoas que acham que amadurecer não é bom. Eu olho para trás e para as parvoíces que me tiraram noites de sono e trouxeram desassossego e ansiedade e respiro fundo em gratidão por esta capacidade em crescendo de conseguir filtrar o que mais me acrescenta do que me tira simetria e equilíbrio.
Tantos anos para assimilar o que à partida sempre foi óbvio. Aceito de bom grado as rugas e vincos de expressão, o metabolismo lento que me assentou nas coxas com vontade de ficar e que me lembra do quanto sabe bem acalmar o ritmo, em troca da sabedoria adocicada que sinto que a idade me vai trazendo.
E neste ritmo envolvente de mexe tacho, com os perfumes dos sabores que vão dançando em vapores pela cozinha, sonho com a casa em frente ao mar com todas as pedras que vou apanhando, o alpendre coberto e a cama de rede, os tomilhos e alfazemas ao fundo e o sol dourado a deixar-se ir num novo dia.

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