domingo, 10 de maio de 2020

My cherry amour

A primavera chega oficialmente quando chegam as cerejas. Ritual obrigatório - pedir um desejo na primeira trinca! Porquê pedir desejos à primeira cereja do ano? Não faço ideia. Já é um hábito de há tantos anos que nem sei como o ganhei... Todavia, as cerejas são mesmo especiais. Por alguma razão se colocam no topo dos bolos. A única coisa melhor que um bolo, é um bolo com uma cereja no topo. Não fui eu que inventei a expressão que até se usa fora de contextos alimentares.
Já no ano novo quando é para pedir desejos às passas, uma pessoa ou tem uma lista, ou como raio se há-de conseguir formular doze desejos em doze segundos? Sempre a pressão do tempo e das vontades!
Houve um ano que pedi apenas - discernimento - e em contra-senso enfiei-as todas na boca de uma vez.
Também peço desejos aos dentes-de-leão, às estrelas cadentes e às libélulas.
E às vezes, à vida. O que me move, é acima de tudo, o ritual, a sinergia que se cria ao selar um pacto com a natureza. Adoro rituais, apesar de saber que muito mais importante que os desejos é a capacidade de aceitação - isso sim - uma verdadeira benção conseguir atingir.
Há muitos anos atrás desejei ter uma menina. Queria muito uma parceira que herdasse os meus vestidos e habilidades culinárias e compreendesse os olhares cúmplices dos segredos femininos. 
Ao contrário das expectativas fui agraciada com dois meninos e isso ensinou-me que as cumplicidades ou segredos não têm género e que as heranças passam de forma natural e voluntariamente. Já os vestidos, nem por isso, mas que importa, a roupa?
Aprendi também que às vezes o que se recebe é melhor ainda que o que se desejou.
Não sei de quem terei herdado a paciência para descaroçar um quilo de cereja para fazer uma tarte, isto se sobrarem, porque a cada uma que meto na taça, são duas que meto na boca. Mas uma vez mais, é todo um processo necessário para obter o resultado pretendido e, ainda que esperar e tarefas minuciosas não sejam o meu forte em todos os outros enquadramentos da vida, na cozinha eu compreendo o tempo que é preciso, como se fossemos um só. 

3 comentários:

  1. ❤️❤️❤️amei mana! Sabes como sou completamente “viciada” em cerejas. 🍒🍒🍒 venham elas!!! 🍒🍒🍒muitas

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  2. Que liiindooooo...❤ Como sempre amei tua crónica.
    Alê

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  3. Adorarias conhecer a minha Avó Mimi; como pessoa e como artista! Mas ainda hei de lhe ler este texto. Vai adorar ouvir falar de cerejas e do que sempre nos ensinou, de sabermos aceitar! Eu ainda estou a aprender...❤️

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