Devia beber mais água. Manter o corpo hidratado faz-me sentir saudável. E comer maçãs e apanhar sol quando a chuva me deixa.
Só agora me dei conta que passo a vida a tocar na cara. É comichão nos olhos, no nariz e até nas maçãs do rosto que nem sabia que também se queixavam. Será só agora que sei que não devo?
Hoje sonhei que estávamos a viver um sonho. Um sonho no sonho. Se calhar estamos.
Acordei com a buzina da padeira. Eu e a aldeia inteira! Podem faltar abraços e passeios à beira mar mas não pode faltar a padeira nem o pão.
Estou dividida entre a frustração de não poder fazer nada do que me apetece e a preguiça de não me apetecer fazer nada do que devo. Tenho que fazer sopa! Mas gosto. Muito. O ritmo da sopa funciona como um mantra. Um mantra para uma preparação. É como uma poção mágica de um caldeirão digno de Merlin.
A sopa tem tudo e até as crianças adoram a minha. Que grande vaidade!
O segredo, podia usar o clichet - é o amor. O amor é o segredo para tudo. Na sopa também é o tempo. A cenoura precisa de vagar para amaciar a fibra e aveludar o puré. Cozer muito lentamente, como se nem existisse. Deixar-se ir como num desmaio que faz toda a diferença no resultado da textura. Que poesia, eu na cozinha a pelar raízes! As cenouras são raízes. Há que chamar as coisas pelos nomes. Depois é preciso a simetria, o equilíbrio do palato, com o nabo e a cebola. O resto que vem depois, tanto faz, só acrescenta. Entra tudo na panela sem água, com fio de azeite e magia acontece sem nenhum truque ou ilusão, em perfeita sincronia vegetal.
Estas rotinas dão cor ao dia e ao ânimo. O sol dignou-se a aparecer. Finalmente!
Faço uma pausa na cozinha. Já nem ligo a televisão. Junto os livros por ler, determinada a honrar-lhes o propósito.
-"Mindfulness para totós" - o primeiro da fila. Faço um chá com hortelã fresca.
Sento-me na cadeira lá fora, cheira a flores por todo o lado. As alfaces estão quase boas para colher e para a semana já consigo estrear os espinafres. A horta está linda, apesar dos brócolos terem mais lagartas que folhas. Cansei-me de as mandar embora. Fizemos um pacto. Lá as adoptei à força. Destinei-lhes um pé, os outros são nossos. Pareceu-me justo. Fiquei em paz e ainda nem abri o livro...
terça-feira, 28 de abril de 2020
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Que delícia de texto...
ResponderEliminarAlê❤
Uau 👏 adorei, e adoro as tuas sopinhas maravilhosas mana, as melhores do Mundooo ❤️😘😘
ResponderEliminarComo eu te entendo... amanhã também vou acordar com um despertador igual ao teu! Mas como inspiração na tua jura, não vou refilar! Vivam as nossas aldeias!
ResponderEliminarPS: vou adoptar o teu pacto com as lagartas!