terça-feira, 7 de abril de 2020

Mapas

Não sei se com os outros também é comum, mas tenho um género de tique quando me sinto muito insegura e me falha a sabedoria interior ou a convicção que é testar os sinais do destino em busca da resposta que não me sai em espontâneo.
E esse é todo um diálogo que se passa dentro da minha cabeça, mais ou menos assim - se amanhã chover é sinal que em vez de Salada de Quinoa devo fazer Caril de Legumes. Mas também uso esta técnica nada provada cientificamente em situações mais delicadas, como por exemplo, todos diziam que não era boa aposta um vegetariano no Bombarral e a minha decisão de avançar foi em função de receber um desses sinais que pode parecer tão pouco consistente que prefiro guardar só para mim.
Mas adiante, que há coisas em mim que são demasiado previsíveis, como nunca fazer uma sopa sem nabo. E isso até é do senso comum. O nabo é o mediador entre os legumes, na sopa. Não é superstição. Ou sempre que passamos numa quinta aqui perto que tem um enorme terreno onde pastam ovelhas e um cavalo branco, tenho de parar para lhe fazer uma festa. Ao cavalo. Manias. Chamo-lhe Rocinante, por parvoíce, talvez por ser zona de moinhos, mas cada vez que olho para ele acho que tem ar de Pégaso. Eu pelo menos sinto que levanto voo sempre que lhe faço festas ou dou maçãs do lado de cá da vedação e com mil cuidados para ele não se magoar no arame farpado em cima.
Quem já tocou num cavalo deve perceber o que sinto. O bafo de calor que lhe sai pelas enormes narinas e os segundos que dura na palma da minha mão é uma sensação indescritível!
Mas isto era suposto ser sobre coisas previsiveis e imprevisíveis. Numa outra crónica qualquer falava do quanto sinto numa ligação quase definida, quase, porque há coisas que me transcendem completamente, como é óbvio, mas olho para as situações mais marcantes que vivi e percebo a razão maior de terem acontecido. Quase todas! As desilusões que tive, as bênçãos que me cairam do céu, as portas que fechei e outras que abri, ao olhar para trás fazem-me sentido. Aquele catering que me tirou o sono durante uma semana e exasperou todos à minha volta enquanto transbordava brutidade e rosnava 'deixem-me no meu canto' - é aquela coisa da dor, ou do medo, que devem vir do mesmo sítio, preciso de me resolver antes de voltar aos outros, requer algum espaço/tempo, isto...- serviu para conhecer uma amiga que sei que ficará para a vida. E comigo, para a vida vale mesmo cada letra em fiel determinação.
Talvez daqui a uns meses, com muita esperança minha, se possa olhar para trás também nesta situação e compreender a razão maior do que foi e do que ficou.

6 comentários:

  1. Bom dia
    Ler o que escreve, faz-me sair desta quarentena e voar...🥰
    Beijinho grande 😘
    Esmeralda 😉

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  2. Ohhh querida Esmeralda!! Obrigada! Que bom saber! ❤❤

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  3. O cavalo representa o SER, em nós, o nosso Espírito, que faz a conexão entre o mundo espiritual e o terrestre, a comunicação entre consciente e inconsciente, entre a luz e a sombra, o físico e o mental.
    No Xamanismo, o cavalo ensina-nos a andar em novas direções e a descobrir a nossa liberdade e o nosso poder.

    É por isso que nos sentimos bem ao tocar-lhes ... algo deles fica em nós...

    Mas tu sabes destas coisas melhor do que eu... e de bolos isso nem se fala...ainda sabes mais ...
    Adoro cavalos...a energia deles, adoro os teus bolos, adoro as tuas crónicas e adoro-te a ti ❤️

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