De todos os lugares por onde já passei, há uns que por razões muito especiais me estão no coração.
Colares tem muitas dessas razões. Tantas! Conheci muitas pessoas que me ficaram e passei por experiências inesquecíveis com luzes douradas de fim de dia e cheiro a Pérolas, lendas, amores perfeitos e jasmins.
Do lado de lá do coreto, ganhei uma amiga. Devia ter uns setenta anos, a minha Casimira. Entrava, tomávamos um café as duas. Cheio, o dela. Quase como a vida que já tinha vivido. Às vezes comia uma fatia dos meus bolos. Com mil cuidados e medo da glicemia.
Rija, com tanta fibra como doçura.
No meio de conversas e desabafos, cresceu-nos um carinho enorme e um dia, nos meus anos, perto do ultimo Natal que passou neste plano, ofereceu-me uma orquídea.
Tenho a certeza que por ser a flor mais especial para ela e bonita e delicada e se calhar é essa a razão de eu nunca lhes ter achado grande graça, às orquídeas.
Nunca fui fã de aspectos tão frágeis que parece que se partem quando tocamos ou subimos o tom na voz.
Eu tenho uma voz grave, dificuldade em sussurros e preciso de abraços apertados sem me preocupar com o ar dos pulmões. Como sou desastrada por natureza, não queria mais preocupações...
Guardei-a porque foi ela que me deu.
De vez em quando lá a olhava pelo canto do olho, afinal é bonita e eu gosto de coisas bonitas, mas prefiro as resistentes, as que aguentam tudo e não as florzinhas.
Deve ter passado o inverno e se calhar meia primavera quando me lembro de a ter olhado outra vez. Com duas folhas verdes enormes, eu com algum sentimento de culpa e ela já sem flor, ainda menos interessante, assim despida.
Nem sei se a terei regado alguma vez nos meses que se passaram. Lembrei-me da Casimira, do carinho, dos abraços, dos nossos cafés e das conversas e deitei-lhe umas gotas de água antes de voltar a esquecer-me dela na janela da casa de banho de cima. Talvez passado um ano, floriu outra vez, já eu nem me lembrava que existia. Olhava para mim com ar doce, florido e elegante, cheia de humildade e cor, a dizer-me que a resistência às vezes é de uma subtileza enorme e que as fragilidades não são eternas nem aparentes e também que há momentos para tudo na vida. Esta orquídea foi uma Páscoa fora de época.
A minha Estrela de Natal também não quer saber das regras do calendário nem do senso humano e em pleno Abril, brota folhas vermelhas.
A pêra rocha que também já floresce aqui por todo o lado e cumpre a primavera, soube eu há pouco que teve origem na Várzea. Em Colares. Isto reforça-me ainda mais a teoria do quanto está tudo ligado na minha vida.
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Que lindo. Adorei ❤️🌷
ResponderEliminarCoisa mais linda❤❤❤
ResponderEliminarAlê
Fiquei de coração apertado. Bonita amizade a vossa❤️
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